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terça-feira, 16 de abril de 2013

O real problema é a impunidade


Sempre que um menor de idade comete um crime que comove a sociedade, vem a tona a questão da maioridade penal. Será que vale a pena diminuir a maioridade ou isso não significa dizer que, se assim for, o índice de violência vai cair? Sabemos que a incerteza não está somente na decisão do Congresso, mas também no sistema mais adequado para receber e recuperar esses jovens que, na maioria das vezes, de santos não tem nada. Afinal, diminuir a maior idade penal, seria uma boa ideia?
Segundo o ministro Gilberto Carvalho, o governo não apoia, em hipótese alguma, a redação. Disse ser algo inconstitucional e que isso não deve ser discutido no calor do assunto, depois de um jovem ter sido assassinado por um menor. E não era para menos, porque, recentemente, o menor matou um rapaz, foi para um reformatório, mas dias depois completou 18 anos e, pela lei, foi solto de novo. A sensação de impunidade invadiu, novamente, a sociedade brasileira, atiçada pela mídia, clama essa reforma na demanda, que é de diminuir a maioridade para 16 anos. Outros querem para 14 anos. Na Austrália é de 7 anos.
Há dúvidas sobre qual o sistema que teria mais condições de "recuperar" um menor infrator, pois 43% dos jovens que passam pelo sistema sócio educativo voltam a cometer crimes até piores. Se quiséssemos fugir aos caprichos do legislador e adotar uma regra informada pela ciência, teríamos, na verdade, de empurrar o limite para além dos 20 anos, que é quando amadurece o córtex pré-frontal, área do cérebro responsável por tomar decisões complexas e controlar a impulsividade. Mas por que não ceder aos apelos da população?

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Se estivéssemos partindo do zero, seria uma coisa, mas estamos querendo modificar um sistema que já existe e, se há uma receita para piorá-lo, é ceder à tentação de legislar sob forte impacto emocional. Supondo que a maioridade baixe para 16, o que faremos quando um garoto de 15 matar alguém? Reduziremos o limite para 14, ou 10? Muitos desses jovens infratores cometem crimes tendo consciência da impunidade, de que daqui a dois ou três anos serão soltos. Se criminosos adultos já cometem crimes sabendo que o Brasil não é sério, imaginem um adolescente infrator. 
É uma questão complexa, mas que já não pode ser adiada. Algo precisa ser decidido seja para mudar ou não. Devemos esperar que o filho de uma autoridade (um ministro, quem sabe?) seja executado para tomar uma posição? Uma coisa pode não ter nada a ver com a outra, mas se  um adolescente de 16 anos tem maturidade e discernimento suficiente para escolher o presidente da república, por similaridade, deve também ser considerado capaz de saber se uma ação é criminosa ou não, e responder por ela. É uma simples questão de coerência. SÓ QUE, não adianta nada reduzir a maioridade e não ter onde botar os detentos, pois a superlotação em presídios já é um problema antigo. Sou a favor da criação de presídios específicos para adolescentes, porque juntá-los com quem já tem uma ficha criminal pesada, pode acabar prejudicando mais ainda.
Tudo é muito relativo, cada caso é um caso. Hoje em dia, as crianças tem atitudes como se tivessem dois ou três anos a mais em sua idade, tem uma cabeça a frente de seu tempo. Tudo indica que não vá haver redução, mas seria justo que criminosos adolescentes já não fossem mais tratados com tamanha levianidade.  Um dos grandes problemas é que se houve a redação da maioridade, não só os homicídios serão levados em conta, mas também todo um universo de infrações. Uma decisão firme a adequada precisa ser tomada agora, mesmo que sofra alterações durante o tempo. O que não pode é continuar são os jovens cometendo crimes acreditando e conseguindo impunidade. Isso não pode.